Após o anúncio de cessar-fogo entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza, multiplicaram-se nas redes sociais especulações sobre um possível cumprimento da profecia de Daniel 9. Nesse contexto, surgiram questionamentos a respeito da liderança que mediou o acordo, atribuída ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Diante dos rumores, o pastor presbiteriano Augustus Nicodemus publicou um vídeo para avaliar o tema à luz do texto bíblico e apresentar uma leitura distinta da interpretação escatológica difundida em parte do meio evangélico.
No registro, Nicodemus iniciou com uma pergunta direta: “O novo acordo de paz entre Israel e os palestinos é o cumprimento da profecia de Daniel 9? Tem muita gente dizendo que essa seria a paz do anticristo, que viria antes da grande tribulação, e que Daniel falou disso no final do capítulo 9 da sua profecia. Mas será que é isso mesmo que o texto diz?”. Em seguida, propôs voltar ao texto bíblico, citando Daniel 9.26–27: “Depois das sessenta e duas semanas, o ungido será morto e não terá nada. O povo de um príncipe que há de vir destruirá a cidade e o santuário, e seu fim virá como uma inundação. Até o fim haverá guerra, e desolações foram determinadas. Ele fará firme aliança com muitos por uma semana. Na metade da semana fará cessar o sacrifício e a oferta de cereais. Sobre a asa das abominações virá aquele que causa desolação, até que a destruição que está determinada seja derramada sobre ele”.
Ao tratar das leituras que associam acordos de paz ao anticristo, Nicodemus observou que essa interpretação ganhou força no meio evangélico nos últimos dois séculos. Ele contrapôs essa abordagem com a leitura reformada: “Na leitura pela ótica dispensacionalista, esse ele seria o anticristo, que firmaria um tratado político de sete anos com Israel. Mas do ponto de vista reformado, esse texto não está falando do anticristo. Na verdade, ele está falando de Cristo”.
O pastor estruturou a explicação a partir da sequência gramatical do capítulo. Sobre o versículo 26, afirmou: “Depois das sessenta e duas semanas, será morto o ungido e já não estará. E o povo de um príncipe que há de vir destruirá a cidade e o santuário”. Para Nicodemus, o texto primeiro aponta para a morte do Messias — uma referência à morte de Cristo — e, na sequência, para a destruição de Jerusalém, cumprimento associado ao avanço romano no ano 70 d.C., quando a cidade e o Segundo Templo foram arrasados.
A leitura do versículo 27 mantém, segundo ele, o mesmo sujeito: “Aí então, que vem o verso 27: ‘Ele fará firme aliança com muitos por uma semana e na metade da semana fará cessar o sacrifício e a oferta’. Pense bem, repare que o sujeito continua o mesmo, o ungido. E portanto, é ele quem faz a aliança com muitos, a nova aliança profetizada por Jeremias, selada no sangue do ungido. E é ele, o ungido, quem faz cessar os sacrifícios, porque o seu sacrifício foi perfeito e definitivo. Por sua vez, a abominação desoladora não aponta para um futuro líder mundial, nem para um tratado político, mas para a profanação do tempo cumprida primeiro em 70 d.C., e simbolicamente em toda religião que tenta substituir a obra de Cristo por qualquer outro meio de salvação”.
Ao final, Nicodemus recomendou cautela na correlação de eventos atuais com profecias bíblicas. Em suas palavras: “Por isso, esse tratado de paz não é o cumprimento de Daniel 9, como muitos estão dizendo. É só mais uma tentativa humana de buscar estabilidade sem Deus. A verdadeira aliança já foi feita, o verdadeiro sacrifício já foi oferecido e o verdadeiro príncipe da paz já veio. Portanto, toda paz fora dele é temporária, toda esperança sem ele é ilusória. A profecia de Daniel não aponta para uma trégua política, mas para uma cruz. O verdadeiro príncipe da paz já veio e a aliança eterna já foi selada”.
Fonte Good Prime